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Confira 10 erros comuns de brasileiros ao falar inglês

Professores apontam equívocos cometidos também por quem tem o inglês como língua nativa quando tem de falar em português

Dominar um idioma estrangeiro não é tarefa fácil e cometer um erro pode, por vezes, podem gerar constrangimento – ou tornar alguém alvo de uma piada.

A BBC Brasil consultou professores de idiomas para identificar os equívocos mais comuns cometidos tanto por brasileiros ao falar inglês quanto por quem tem o inglês como língua nativa ao falar português.

Há no inglês diversas palavras de pronúncias muito parecidas que, se trocadas uma pela outra, podem deixar uma pessoa em uma saia justa

“Mas é importante ter em mente que aprender uma língua não é simplesmente colocar etiquetas com novas palavras em coisas que já existem. É se apropriar de uma outra forma de recortar a realidade e imergir em outra cultura. Errar faz parte desse processo”, afirma Bianca Garcia, pesquisadora e fundadora da Espiral Consultoria Linguística.

Por sua vez, a educadora Maria Eugênia Sanson, diretora de soluções acadêmicas da rede de escolas de idiomas Cultura Inglesa, afirma que os alunos não devem ter medo de errar.

“O erro é necessário, porque é assim que testamos hipóteses ao aprender um novo idioma. Para avançar no conhecimento de uma língua, é preciso se arriscar.”

AO APRENDER INGLÊS

Confundir palavras de grafia e pronúncia parecidas

Não apenas kitchen e chicken são um desafio. Há no inglês diversas palavras de pronúncias muito parecidas que, se trocadas uma pela outra, podem deixar uma pessoa em uma saia justa. É o caso, por exemplo, de beach (praia) e bitch (cadela).

“É preciso ensinar que há uma diferença entre vogais curtas e longas, por exemplo, que muda o sentido da palavra”, diz Rane Souza, que dá aulas particulares para brasileiros e estrangeiros.

“No português, mesmo quando temos uma vogal mais longa, algo característico da pronúncia no Nordeste, isso não altera o significado de um termo.”

Outros desafios comuns para os brasileiros são as pronúncias de word (palavra) e world (mundo); ear (orelha) e year (ano); e sheep (ovelha) e ship (navio).

“Tenho alunos de nível avançado que têm dificuldade em diferenciar world e word. Tem quem não consiga dominar isso de jeito nenhum e acaba falando a mesma palavra para diferentes significados”, afirma Souza.

Usar uma palavra em inglês com seu significado em português

Cair na cilada dos falsos cognatos é um dos erros mais comuns apontados por professores ouvidos pela BBC Brasil.

Trata-se de palavras em inglês com grafia bastante parecida à forma como são escritas em português, como, por exemplo, pretend (fingir), que se parece com “pretender”.

“Um aluno meu trabalhou em uma loja de uma estação de esqui em um programa de intercâmbio, onde tinha de dar informações sobre as condições da montanha”, conta Maria Eugênia Sanson, da Cultura Inglesa.

“Quando alguém perguntou se a situação estava boa para praticar o esporte, ele respondeu: ‘It depends if you are pretending to ski fast’ (Depende de se você fingir esquiar rápido). A pessoa pensou que o rapaz estava fazendo pouco caso dele. Nesse caso, ele deveria ter usado intend (pretender).”

Também se incluem nessa categoria palavras como costume (fantasia), contest (competição), collar (colarinho) e fabric (tecido).

Não pronunciar o dígrafo “th” corretamente

Este dígrafo não existe em português, mas é bastante comum no inglês, usado em palavras parathink (pensar), thank (agradecer) e thick (grosso).

Para produzir seu som corretamente, é necessário colocar a ponta da língua nos dentes superiores, um movimento na boca que os brasileiros não estão acostumados a realizar e acabam pronunciando-o com som das letras “F” ou “T”.

“Se existe um som que você não fala normalmente e não tem um bom ouvido para captar essa diferença, é difícil mesmo reproduzi-lo”, diz Bianca Garcia, da Espiral Consultoria Linguística.

Garcia reuniu, junto com outros professores, os erros mais comuns cometidos por brasileiros – e este foi apontado por eles e outros ouvidos pela BBC Brasil de forma quase unânime como um dos principais problemas de pronúncia.

“Se você diz por exemplo ‘I’m going to thank her’ (Vou agradecê-la) e pronuncia com som de ‘T’, vira tank (afundar), e a pessoa pode entender que você ‘irá afundá-la’, o que pode ser até ofensivo”, afirma Garcia.

“Se a pessoa está no nível iniciante, não vai conseguir se explicar e sair da encrenca.”

Usar a preposição correta em verbos frasais

O uso de preposições no inglês é tão ou mais variado quanto no português, com uma diferença: estas palavras são usadas para compor verbos frasais, que não existem no idioma do brasileiro.

A mudança de uma preposição nestes casos altera o significado da expressão, como, por exemplo, em look out (ter cuidado) e look into (verificar).

“Por conta dessa pluralidade de sentidos gerada por uma infinidade de combinações possíveis, é preciso ter atenção redobrada ao usá-los”, afirma a professora Rane Souza.

“Se você trocar o verbo make up (inventar ou fazer as pazes) por make out (ficar, no sentido de namorar), este erro pode colocar a pessoa numa situação difícil.”

Traduzir diretamente do português

Ao aprender inglês, é preciso ter em mente que algumas expressões ou construções do português não existem no outro idioma.

É comum, principalmente entre brasileiros começando seus estudos, recorrer ao repertório de sua língua nativa ao falar inglês.

Dominar um idioma estrangeiro não é tarefa fácil e cometer um erro pode, por vezes, podem gerar constrangimento

É o caso por exemplo de locuções verbais, como quando dizemos “vou ver/falar com minha mãe”, que alguns alunos acabam traduzindo diretamente para I go see my mother ou I go talk to my mother, quando o correto seria I’m going to see/talk with my mother.

Esse erro também é bastante comum no emprego de gírias e expressões idiomáticas.

“A pessoa diz que vai ‘break the branch’ (quebrar o galho), ‘make beatiful’ (fazer bonito) ou que alguém ‘stepped on the ball’ (pisou na bola), sem perceber que é necessário adaptar expressões”, afirma Sanson.

Um de seus alunos fez uma tradução literal assim quando estava viajando e, em uma boate, acabou se envolvendo em uma discussão.

“Ao ser retirado da boate por um segurança, ele gritava: ‘I don’t have cockroach blood!’ (Eu não tenho sangue de barata). Ninguém entendeu nada, é claro.”

AO APRENDER PORTUGUÊS

Pronúncia de sons nasais e dos dígrafos ‘lh’ e ‘nh’

Se o dígrafo “th” é um som comum no inglês que não tem correspondência em português, o mesmo acontece com os sons nasais característicos de palavras com o acento til, como “mão”, “pão” ou “não”.

“Estrangeiros de uma forma geral têm grande dificuldade em pronunciar palavras assim e acabam emitindo vogais com um som mais aberto, transformando a letra ‘o’ em ‘u'”, afirma Mariângela Idoeta, professora de inglês e português.

“Imagina um americano ou inglês chegando na padaria e pedindo um ‘pauzinho’?”

A professora também destaca ser complicado para quem fala inglês pronunciar os dígrafos ‘lh’ e ‘nh’, muito comuns em português.

“Eles não têm esse som em seu vocabulário e, por não ter esse costume, não conseguem posicionar a língua na boca da forma correta para pronunciá-los, fazendo com que o ‘h’ vire um ‘i’. Malha vira ‘malia’, por exemplo.”

Concordância verbal e de gênero

Para os brasileiros, fazer a concordância verbal e de gênero entre sujeito, verbo e seus complementos é quase automático, mas, para quem tem o inglês como língua nativa, não é uma tarefa tão simples.

“Algumas dessas concordâncias não existem no inglês. Neste idioma, os adjetivos não têm plural como no português, por exemplo”, afirma Idoeta.

A professora Rane Souza destaca que um dos maiores desafios de quem fala inglês é aplicar corretamente a concordância de gênero aos substantivos.

Ela explica a seus alunos ser necessário prestar atenção a palavras terminadas em ‘o’ para identificar termos masculinos e ‘a’ para os femininos.

“Mas existem casos em que não é assim, como ‘mão’. E fica ainda mais difícil quando a palavra não dá pistas, como é o caso de ‘lei'”, afirma Souza.

“É preciso recorrer à memorização e, mesmo quem é bastante experiente e vive no Brasil há muito tempo tem dificuldade com isso.”

É assim para o holandês Dennis Nijsten, que dá aulas de inglês para brasileiros e vive há 18 anos no país.

“Existe uma regra, mas há muitas exceções sem justificativa. É muito difícil para um estrangeiro captar isso. Até hoje, falo pernilonga.”

Idoeta destaca que essa dificuldade se manifesta especialmente nos pronomes possessivos.

“Quando falamos ‘meu’ ou ‘minha’, esse pronome concorda com o objeto, não com o sujeito. Mas, quando se usa ‘dele’ ou ‘dela’, a concordância é com o dono do objeto. Isso dá um nó na cabeça deles”, afirma professora.

Diferenciar determinadas palavras

Não são apenas os brasileiros que se confundem com palavras de grafias parecidas em inglês. O inverso também é verdadeiro.

Um caso bastante comum, segundo Rane Souza, é “avô” e “avó”. “Eles não conseguem diferenciar e usam uma palavra para os dois sentidos.”

É difícil para quem fala inglês pronunciar os dígrafos ‘lh’ e ‘nh’, muito comuns em português.

Outro exemplo é entre “pais” e “país”. “Eles não conseguem enfatizar o ‘i'”, afirma Souza.

“O inglês tem uma estrutura um pouco diferente de sílabas e, para eles (estrangeiros), é estranho uma palavra tão pequena ter mais de uma sílaba. Acabam sofrendo bastante e aprendendo só com muita repetição.”

Aplicar a entonação correta a uma pergunta

No português, basta aplicar uma entonação diferente a uma frase para que ela seja formulada como uma pergunta.

Já no inglês, ao fazer uma pergunta, é necessário alterar a estrutura de uma frase, mudando a posição do verbo e seus auxiliares.

“Nem sempre eles mudam a entonação quando falam em inglês, porque a estrutura já indica que é uma pergunta”, afirma Souza.

“Aí, quando eles falam alguma coisa em português, é difícil entender se estão fazendo uma afirmação ou um questionamento.”

Mariângela Idoeta destaca como uma dificuldade comum o uso das formas irregulares dos verbos “ir”, “ver” e “vir”. Um erro comum, por exemplo, é usar “viu” no lugar de “veio” na terceira pessoa do singular. E há outros.

“O passado do verbo ‘ir’ na primeira pessoa é ‘fui’, o mesmo para o verbo ‘ser’. Isso os confunde muito, assim como entender a diferença entre o ‘fui’ e o ‘foi'”, afirma a professora.

“Se a pessoa não apura o ouvido para captar essa diferença no dia a dia, a palavra correta não sai nem com muito esforço.”

Idoeta também detecta no aprendizado de português o desafio em compreender o que diferencia os verbos “ser” e “estar”.

“Explico que o ‘ser’ é mais permanente que o ‘estar’, mais temporário. Um aluno estrangeiro me disse uma vez que ‘estava’ amigo de uma pessoa. Ao corrigi-lo, ele me perguntou: ‘Mas e se nós brigarmos amanhã?’. Aí complica, não é mesmo?”

Fonte: Terra
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