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Mas eu não falo nem português direito, como aprender a falar inglês?

Não tem mais como fugir: falar uma segunda língua é tão essencial quanto ter uma educação básica. A justificativa para essa essencialidade é geralmente muito cliché: o mundo está altamente globalizado e para aumentar suas chances no mercado de trabalho é importante saber uma segunda língua — geralmente inglês. É daí que vêm a frases: “pra ser alguém na vida, tem que estudar inglês”. A minha justificativa pra te convencer de que você precisa aprender uma segunda língua é outra. E obviamente mais cognitiva: ser bilíngue faz bem para o seu cérebro. É como se fosse um suplemento vitamínico pra sua cognição. Simples assim.

Existem basicamente dois tipos de falantes bilíngues: simultâneo e sequencial. O bilíngue simultâneo é aquele que é exposto a duas línguas desde o nascimento. Filhos de pais de diferentes países (ex., mãe brasileira e pai alemão) que crescem ouvindo (e conversando) com as pais nas suas respectivas línguas. Bilíngues simultâneos geralmente aprendem as duas línguas com nível de proficiência próxima a de um falante nativo de apenas uma das línguas. O bilíngue sequencial é aquele que aprende uma segunda língua após já ser proficiente na sua língua materna. Pessoas que estudam fora do país, ou que aprendem uma língua estrangeira depois dos 4 ou 5 anos de idade são considerados bilíngues sequenciais.

Independente do tipo de bilinguismo (sequencial ou simultâneo), as vantagens cognitivas são impressionantes. Uma das primeiras vantagens já abundantemente estudadas por vários pesquisadores é a chamada vantagem no controle inibitório. Eu explico. Já viu um teste que circula muito pela internet, onde você precisa falar as cores de algumas palavras e não o que está escrito? Por exemplo, você vai ver a palavra “verde” escrita de “amarelo” e precisa dizer a cor (amarelo) e não a palavra (verde). Esse teste é conhecido como “Teste Stroop“. Basicamente ele mede a sua capacidade de “inibir” uma informação (ler a palavra) e ativar outra informação (falar a cor). Pessoas que têm um controle inibitório melhor, geralmente conseguem fazer esse teste sem errar muito e mais rapidamente. Vários estudos com crianças e adultos mostram que bilíngues têm um controle inibitório muito melhor, pois articulam essa habilidade com mais frequência.

Mas ninguém sai por aí fazendo esse teste de Stroop. Qual é a real vantagem que o bilinguismo tem no nosso dia-a-dia? Esse mesmo mecanismo inibitório usado no Teste Stroop é acionado quando precisamos tomar uma decisão que envolve algum tipo de troca (por exemplo: economizar agora e ter mais depois, ou ter o que quer agora e nada depois?). Pesquisas mostram que bilíngues planejam muito mais antes de agir em comparação com falantes monolíngues. Bilíngues geralmente planejam mais, o que faz com que eles errem menos nas suas tomadas de decisão.

E quando a velhice chega, bilinguismo também ajuda. Algumas pesquisas realizadas na Universidade da Califórnia em San Diego sugerem que, dentre idosos com risco de Alzheimer e demência, aqueles que eram falantes bilíngues, tinham o início da doença significativamente mais tarde do que os idosos que falavam apenas uma língua. Em outras palavras, a doença demorava mais tempo pra se manifestar em falantes bilíngues, o que obviamente, aumenta a qualidade de vida desses idosos.

Mas por que isso acontece? As representações mentais das duas línguas estão ativas o tempo todo, ou seja, o nosso cérebro não “desliga” a língua portuguesa enquanto você fala o inglês e vice-versa. Por esse motivo, o seu cérebro precisa estar sempre em alerta com relação as pistas contextuais que ativam o uso de uma língua ou de outra. Esse exercício constante faz com que seu cérebro se exercite mais do que o cérebro de um falante monolíngue. E esse exercício constante faz seu cérebro mais “forte” em todos os sentidos, não somente no quesito “falar uma língua estrangeira”.

E mesmo que inicialmente, quando você está começando a aprender uma segunda língua, as coisas pareçam confusas e difíceis, saiba que seu cérebro está certamente criando mais e mais conexões e melhorando a performance dele em outros domínios. Aprender uma língua é como aqueles primeiros dias na academia: chato e sem resultado. Mas os benefícios a longo prazo são inquestionáveis.

Tem alguma curiosidade sobre como funciona seu cérebro e sua mente? Mande para o Cognando.

Fonte: Cognando por André L. Souza

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