Uma escola inovadora no Vale baseada em engajamento

In dezembro 6, 2018
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O CEO da Hey Peppers!, Felipe Diesel, visitou uma escola em San Francisco, USA, no Vale do Silício. Olha o relato desta experiência.

 

Em maio deste ano eu tive a oportunidade de visitar uma escola que admiro há algum tempo: a Brightworks School. Essa escola fica sediada em San Francisco, USA, no Vale do Silício.

Muitas pessoas visitam o Vale (como ele é carinhosamente chamado) para compreender um pouco da cultura das empresas inovadoras.

Eu penso que se as empresas mais inovadoras do mundo estão em um lugar, as escolas mais inovadoras também devem estar.

Viajo para o Vale anualmente e sempre paro na Brightwork. Toda a vez aprendo muito e fico mais fã desse lugar.

Bom, acredito que você queira saber mais sobre essa escola, certo? Então vamos ao que interessa. Vou criar alguns bullet points e explicar as características que despertaram o meu interesse nessa escola.

 

Como começou:

  • Gever Tulley, cientista da computação, criou em 2004 um programa de verão para jovens onde baseia suas experiências de aprendizado em exploração e experimentação. Durante os projetos, através de trabalhos manuais e produção de soluções concretas, trabalha-se habilidades como criatividade, comunicação e trabalho em grupo. Desta experiência com os ‘summers camps’ surgiu a ideia de fazer o aprendizado mais real e contextualizado. Criou-se então uma escola regular: a Brightworks School.

Tive o prazer de conhecer Gever pessoalmente, e embora não seja um educador, sua visão sobre a educação contextualizada e real é inspiradora. Ele repete constantemente que você deve confiar que as crianças são capazes e competentes, inclusive para cometer erros e aprender de maneira independente. Durante esta conversa, duas meninas, que deveriam ter entre 09 e 12 anos, educadamente nos interromperam para perguntar se poderiam ligar uma máquina de corte pois precisavam cortar madeira para um projeto que estavam fazendo sobre construções resistentes a terremotos. Achei maravilhosa a ideia de meninas pré-adolescentes operando uma máquina de corte que deveria ter uns 10 quilos para fazer um projeto escolar.

Isso poderia chocar alguns educadores, mas entendo a proposta de Gever e consequentemente, da escola sobre a ‘cultura maker’.

 

A proposta pedagógica:

  • Na Brightworks eles entendem a sua metodologia como uma construção entre várias filosofias. Eles garantem, em sua proposta, que os alunos irão se conhecer e conhecer um ao outro. O foco sempre acaba sendo o indivíduo e seu desenvolvimento. Há uma grande preocupação com a comunidade e a construção coletiva.

Outro ponto de sua abordagem é que “Conteúdo é irrelevante”! Espera aí, vou explicar: esse ponto pode ser mal entendido, mas expressa que já que “tudo é interessante”, logo qualquer pergunta, dúvida ou curiosidade do aluno pode ser trazido como tema gerador em sala de aula, seja para análise, debate ou estudo.

De cara, você pode perceber algo de diferente na escola. Um detalhe: todos os alunos andam de band aid nas mãos. Isso já diz muito sobre a sua proposta pedagógica. Eles devem fazer. Tudo o que é debatido, estudado e entendido deve virar um projeto real, ou seja, se eu estou estudando estruturas de casas resistentes a terremotos, eu devo criar uma casa, não uma maquete. Um modelo real.

Mesmo com uma pedagogia mais aberta e flexível, eles se alinham a base curricular padrão.

 

Como a proposta é entregue:

 

  • Os projetos na Brightworks são divididos em 3 etapas:
    • Exploração – nessa fase os alunos passam 6 semanas entendendo o problema a ser resolvido. Esse período é todo liderado pelo aluno com base em suas dúvidas e inferências sobre temas reais. Para conseguir realmente saber onde atuar e que problema resolver, eles fazem viagens de campo, entrevistas com experts no assunto e são impelidos a fazer novos questionamentos e explorar diferentes pontos de vista.
    • Expressão – com duração de 12 a 14 semanas, eles entendem o porque estão curiosos sobre o tema e como isso pode impactar positivamente suas vidas e de sua comunidade. O professor aqui funciona como um ‘coach’ que desafia os alunos e os provoca a ampliar o seu campo de visão. Além de tudo isso, eles ganham $ 40,00 para iniciar a próxima fase do projeto.
    • Projeto –  com duração menor, foca na expressão do que foi aprendido. Com o dinheiro recebido na fase anterior, (eles tem um orçamento e deve ser o suficiente para o projeto) eles devem construir a solução para o problema, e nessa exposição, recebem pais e a comunidade para dividir o aprendizado através da solução de problemas reais.

Na escola não há um currículo definido. Não há testes ou avaliações e os colaboradores (como são chamados ao invés de professores) não ensinam nenhum assunto específico.

Quando a criança chega, ela é confrontada com cordas, rodas, pedaços de madeira, fitas adesivas, cartões e várias ferramentas de construção. Os alunos começam algumas vezes com rascunhos dos projetos, outras vezes com planos mais elaborados, outras vezes simplesmente se constrói algo. Construção é o núcleo da experiência. Os alunos sempre estão comprometidos e envolvidos, o faz desta, uma experiência imersiva durante todo tempo que passa na escola.

 

Outros pontos relevantes:

 

  • A escola funciona em um espaço aberto, criado de acordo com o uso. Não existem salas de aula e os alunos podem aprender e fazer projetos em diferentes ambientes nada convencionais.
  • A escola não tem ginásio ou laboratórios. Segundo a direção da escola, até 60% do orçamento de uma instituição pode ser alocado em manutenção de espaços físicos.

Eles preferem usar esse orçamento para valorização do educador e desta maneira, conectam-se com a comunidade ao utilizar parques e praças para a prática esportiva do aluno.

  • Ao ser perguntado sobre a política da escola sobre celulares, a diretora falou que não existe uma política. Eles acreditam que se o aluno tem um celular, é por que ele deve ter responsabilidade para usá-lo.
  • Não há tema de casa. Tudo o que eles devem aprender deve ser dado durante o tempo em que estão na escola. Em casa, deve-se ser criança e brincar.
  • Antes da matrícula, a família é entrevistada e testada para saber se tem o perfil para ter o seu filho matriculado na escola.
  • Sexta-feira é dia de almoço em família. Os pais saem de seus escritórios e almoçam com seus filhos na escola. É comum que este almoço seja preparado pelos próprios pais e alunos.

Em um espaço onde as crianças desmontam coisas para aprender o seu uso e têm livre acesso a ferramentas pesadas de construção. Gever fala orgulhosamente que, em 10 anos, nunca houve um único acidente.

Uma visita a Brightworks não apenas rende várias ideias inovadoras para a prática de ensino, como também gera uma boa reflexão sobre a centralização do aprendizado e autonomia do aluno.

Por fim, recomendo a visita a todo educador que queira expandir seus conceitos sobre a educação e se desafiar a adquirir um novo ponto de vista. Uma visita no vale sempre vale a pena, ainda mais quando se busca conhecer cada vez mais sobre essa nova educação inovadora.

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